quinta-feira, 19 de agosto de 2010

Santa Catarina: Entre praias e campos

Expedição de Inverno - Parte 4
No dia anterior nas proximidades de Balneário Camboriú Marco faz uma observação sobre seu freio a disco traseiro ou a ausência do mesmo. Verificando melhor notou que não tinha mais pastilha, um fato extremamente curioso, pois era nova e não resistiu dois dias de pedal, mesmo com muita chuva não era algo normal. Com uma cautela maior decidiu seguir apenas com o freio dianteiro e trocar em São José, a cidade mais próxima com possibilidades de ter uma bicicletaria com serviço especializado.

Na saída de Biguaçu, tempo ruim e chuviscos com a impressão de que a situação não iria melhorar. Avançando chegamos na entrada de Florianópolis, a Ilha da Magia, uma cidade com praias maravilhosas que eu tive o prazer em conhecer no verão de 2006. Registramos a passagem e começamos a perguntar em São José sobre a existência de uma bicicletaria próxima. Na saída da cidade resolvemos conferir a indicada por algumas pessoas. A loja ficava cerca de 3 km da rodovia e infelizmente não trabalhava com freio a disco.


São José/SC, entrada para Florianópolis.
Retornamos à BR 101 e resolvemos parar apenas em Palhoça, cidade onde o motociclista Carlos Fernado que também pedala e está preparando uma viagem para a Europa disse que havia uma boa loja para trocar as pastilhas. Chegando em Palhoça, após algumas perguntas, idas e vindas, somos direcionados ao centro da cidade, finalmente encontramos a Cicle Guckert.

Ao comunicar o problema, uma resposta não muito boa, a pastilha disponível era para freio mecânico, o do Marco era hidráulico. Mas o mecânico, muito atencioso, disse que poderia dar um jeito e solução é o que precisávamos para seguir. Marco autoriza a troca e ao começar o serviço, Leonardo (mecânico) nota o que causou o desgaste da peça, ela era específica para freio mecânico e com a utilização excessiva e muita chuva, não resistiu. Leonardo ressalva que vai fazer o mesmo procedimento. Melhor assim do que ficar sem freio.

O que sobrou das pastilhas do freio a disco.
Realizada a troca, observa-se uma folga na catraca da bike do Marco, logo ajustada pelo mecânico que aproveita e faz a mudança das sapatas do meu freio v-brake, desgastadas em razão das chuvas. Conversamos um pouco sobre viagens, competições e ciclismo em Santa Catarina. Agradecemos muito e nos despedimos. Resolvemos almoçar em Palhoça.

Em função da busca de uma bicicletaria especializada acabamos pedalando muito pouco na primeira metade do dia, precisávamos pedalar em um ritmo mais forte no período da tarde e também de noite. Seguimos e na região da Enseada do Brito avistamos a Baía Sul de Florianópolis, local muito bonito mesmo com o tempo fechado. Começa aqui as obras de duplicação na BR 101, situação que encontramos até Torres/RS quando saimos da rodovia e pegamos a Estrada do Mar.

Com as obras na 101 existem vários desvios pelo caminho, muita atenção pois em alguns trechos acaba o acostamento e a pista se torna mais estreita. No entanto, isso acontece mais onde tem desvio, logo volta o acostamento sem maiores problemas. Nos locais onde a rodovia já está duplicada o asfalto todo está uma maravilha, tudo perfeito.

Começo das obras de duplicação na BR 101. Vários desvios pelo caminho.
Em uma subida após a Enseada do Brito, um acidente, o caminhão tombado indicava que na estrada estamos sujeitos a tudo e atenção nunca é demais. Paramos, registramos o sinistro e seguimos. Se tudo que sobe, desce, nós descemos e bastante até chegar em uma ponte estreita e movimentada com um espaço minúsculo para o tráfego de bicicleta. A ponte fica sob um rio que por sua vez proporciona uma bela imagem com o Parque Estadual da Serra do Tabuleiro ao fundo. Assim, Marco não perdeu a oportunidade e fez uma parada para clicar a natureza do local e pra isso não se importou com o trânsito perigoso ao nosso lado. Apenas pra completar, uma nova ponte está sendo construida dentro dos planejamentos de duplicação.

Marco tirando o caminhão da terceira pista.

Parque Estadual da Serra do Tabuleiro

Mais alguns quilômetros e passamos pela entrada da praia da Pinheira onde morou o camarada Guilherme que me acompanhou na Expedição Foz, Estrada Real e Belo Horizonte. O que era chuvisco se transformava em chuva e assim foi durante o nosso pedal noite a dentro. O destino do dia a partir do plano feito em Biguaçu era Esplanada, depois da cidade de Tubarão, mas como estávamos atrasados por causa do episódio da manhã, resolvemos seguir até onde aguentássemos. Fizemos uma parada estratégica em um posto Shell para comer umas bolachas, salgados, ir ao banheiro e então continuar. O vento estava forte mas por sorte, a favor, uma raridade pra quem pedala pois parece que sempre temos o azar de pegá-lo contra. Não reclamamos e pegamos carona no vento.

Sem querer ser repetitivo, mas a chuva não nos deixava e persistia a cair. Outra parada, dessa vez pra registrar uma placa curiosa que indicava um lugar com o nome de Caputera, achamos engraçado e não perdemos a oportunidade de tirar uma foto. Na internet fui procurar sobre o local, o mesmo se trata de um bairro de Laguna/SC, cujo "nome foi dado na revolta de 30, os soldados viviam caminhando do centro de Imaruí atravessavam a prainha de canoa quando aqui chegavam diziam Graças a Deus que caímos por terra daí o primeiro nome Caiporterra hoje nossa amada Caputera."

Quantos caminhos na estrada da vida.

Adiante passamos ao lado de um extenso lago, visível mesmo a noite. Era a Lagoa Mirim sinal que Laguna estava próxima, após mais uma ponte estreita e muito mais movimentada do que a citada anteriormente, chegamos a uma entrada para a cidade. Continuamos pela 101 e paramos pouco depois em uma pousada que não nos saiu barato. Aqui vale uma observação; em viagens anteriores fiquei pouquíssimas vezes em pousadas/hotéis, todavia, essa expedição era diferente, acontecia durante o inverno e sob muita chuva o que dificulta a montagem de acampamento, sobretudo, nos postos de combustíveis.

Na pousada em Laguna conseguimos um pequeno desconto e ainda o café da manha incluso, este estava muito bom, diga-se de passagem, contudo, o dia começava melhor por um outro motivo. Era o quarto dia e somente agora o sol aparecia, sua presença foi muito comemorada, era possível tirar a capa do alforje e colocar algumas coisas pra secar sobre ele. Enfim, ver o sol brilhando nos animou bastante, eu particularmente fiquei muito feliz e pela primeira vez na viagem utilizei minha máquina fotográfica. Aproveitei e tirei umas fotos da pousada e fiz uma breve lavagem na bicicleta. O dia seria longo com tantas outras paisagens pelo caminho.

Pousada em Laguna/SC. 4º dia de viagem, finalmente sol.

Marco. Aproveitando o tempo bom para limpar as bicicletas.

A pretensão diária era chegar no Rio Grande do Sul, mais precisamente em Terra de Areia, mas como atrasamos no dia anterior, chegar na divisa de SC/RS seria de bom tamanho. Como era bom voltar a pedalar com sol e tempo bom. Tiramos muitas fotos da região, sua paisagem bucólica mesclada com as muitas indústrias de cerâmica nas proximidades de Tubarão. Nesta área também visualizamos o cultivo do arroz em algumas propriedades, fato pouco presenciado no Paraná e pra falar a verdade não me recordo de ter visto esse tipo de plantação em outro estado por onde tenha pedalado.


Paisagens bucólicas


Com o tempo bom (sem chuva) é possível pedalar com menos roupas.


Cultivo de arroz

Pedalando com sol pela primeira vez na viagem.

Segundo a Embrapa, o Brasil é o maior país no cultivo do arroz fora do continente Asiático, produção realizada a partir de dois sistemas, irrigado e sequeiro, sendo o primeiro responsável por 65% da produção nacional, destacando-se na região sul nas chamadas várzeas subtropicais. A orizicultura em Santa Catarina na última década, foi distribuida principalmente no sul e litoral sul do estado, somando 55% da produção.

Máquina específica para orizicultura


De outro ângulo.

Almoçamos em algum restaurante antes de Maracajá, cidade onde passamos por volta das 5 horas da tarde com a temperatura de 15ºC, informada pelo termômetro na entrada da cidade. Claro que a tendência era ficar mais frio. Em Araranguá tivemos a felicidade de testemunhar um magnífico pôr-do-sol. Parei no posto de combustível pra completar minha água enquanto o Marco foi numa farmácia procurar uma joelheira a fim de prevenir qualquer lesão em seu joelho, infelizmente não encontrou.

Pôr-do-sol em Araranguá/SC

Seguimos e não demorou para que a temperatura despencasse de noite, mesmo assim ainda fizemos uma pausa para comer umas bolachas e descansar alguns minutos, isso foi após a passagem por Sombrio, nome alusivo às sombras das figueiras do município. Como estava escuro e frio, não precisamos das acolhedoras árvores. Avante.

Parada estrátegica; bolacha.

Santa Catarina, este lindo estado pedalado em quatro dias entre chuva, sol, frio, praias e campos
ficava para trás com uma sensação de que voltar um dia é inevitável.

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